A esquerda fracassou clamorosamente em 2018 e isso é um fato. No entanto, burrice é sofrer um revés sem dele tirar algum aprendizado. Se é verdade que as eleições de 2018 foram de derrota, é verdade também que forneceram uma única experiência que, com o passar do tempo, deverá ser digerida e processada para, enfim, se tornar aprendizado. Sabe-se que o conhecimento não é instantâneo. As reais causas da derrocada petista deverão ser investigadas ainda por muito tempo. No entanto, algumas conclusões preliminares são possíveis. Me arrisco, então, a trazer alguns dos motivos que explicam a derrota de Haddad à avaliação de nossos leitores:
Primeiro, é notório que segmentos importantes da esquerda abdicaram de conversar com o trabalhador comum, ou, pelo menos, perderam totalmente a capacidade de fazê-lo. Desviaram o foco de pautas populares e universais, como o combate à fome, ao analfabetismo e o direito à moradia, para outras mais liberais e identitárias, como a legalização do aborto e a ideologia de gênero, que, apesar de importantes, não comovem o cidadão de baixa renda. Pautas identitárias não devem ser o carro-chefe de uma campanha eleitoral por duas razões: porque ofuscam uma discussão mais profunda acerca de um amplo projeto de Estado e porque afastam aqueles que não são diretamente abrangidos por elas. Assim, bordões como "Lute como uma garota", por exemplo, deixam subentendida uma primazia a quem se enquadra na condição de "garota" e afastam, mesmo que inconscientemente, quem não se encaixa nesse grupo.
Segundo, o Lulismo acabou e isso não precisa ser interpretado como acusação. É mera constatação. Justa ou não, a operação de destruição de sua reputação foi bem sucedida, de forma que aparecer junto de Lula hoje é fardo pesado demais para se carregar. Dar a Lula a condição de mentor da campanha petista representou, ao invés de sua redenção, seu enterro, junto do enterro das aspirações progressistas. Deve Lula ser retirado de qualquer estratégia eleitoral para que seja poupado. Quem sabe um dia a história o redima e preserve pelo menos parte de seu inegável legado.
Terceiro, quem tem sua reputação questionada deve focar seu discurso em restabelecê-la e não em atacar pessoa alheia, por mais que também tenha teto de vidro. A lógica é simples: presume-se bom aquele que é atacado pelos maus. Logo, ao tentar demonizar Bolsonaro, a esquerda conseguiu transformá-lo num Deus. É óbvio que o movimento #EleNão surtiu efeito contrário ao esperado e fez com que Bolsonaro se consolidasse como protagonista nas eleições já no primeiro turno.
Quarto, a abordagem precisa mudar. A militância de esquerda parece mais interessada em impactar do que em convencer. Muitas frases fortes, muitos adjetivos pejorativos a adversários, muitas mensagens de engajamento nas redes sociais, mas muito pouca convicção.
Enfim, a experiência está posta. Mais do que lamber as feridas da derrota, cabe à esquerda aprender com ela. Mas, sinceramente, não sei se hoje tem maturidade para isso.